domingo, 12 de setembro de 2010

Blues no sangue

Se antes Cyndi Lauper fazia um pop dançante, agora canta as raízes da música negra norte-americana, que ela garante ser uma de suas paixões desde a infância.

O estilo marcante, os hits, a irreverência e a atitude de Cyndi Lauper fizeram dela uma das mulheres mais importantes da música pop na década de 1980. Primeira cantora a ter cinco singles de um mesmo álbum na "Billboard", com 10 discos de estúdio lançados e cerca de 70 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, ela coleciona sucessos, como "Girls Just Want to Have Fun", tocados em festas até hoje.


Mas quase 30 anos de carreira - desde o primeiro disco, "She?s so Unusual", em 1983 - encaminharam Cyndi para um lado musicalmente mais maduro. Se antes ela fazia um pop dançante, agora ela canta as raízes da música negra norte-americana, que ela garante ser uma de suas paixões desde a infância.


Em "Memphis Blues", que chega agora às lojas, a cantora, hoje com aos 57 anos, rende-se ao som de lendas como Robert Johnson, Muddy Water, BB King e Big Mama Thornton e mostra que pode andar por outros caminhos com competência, sabendo escolher seus parceiros - o disco traz várias participações especiais, entre elas do próprio BB King. Nesta entrevista ao Caderno 2, Cyndi provou que, sim, as garotas ainda querem se divertir, mas também trabalham muito.


Como foi trabalhar nesse novo álbum?
Gravamos o disco em Memphis (Tenessee), o que, por si só, já significa alguma coisa, musicalmente. Eu queria mais do que uma simples referência. Memphis era o ambiente ideal e foi onde eu trabalhei com o produtor Scott Bomar. Gravamos o CD à maneira antiga: tudo ao vivo, no sistema analógico, uma música por dia. Basicamente, eu trabalhava os arranjos com os músicos, ensaiávamos e gravávamos não mais do que três ou quatro vezes. Foi totalmente no calor do momento, que é a melhor maneira de gravar blues pra mim. Depois, nós simplesmente escolhemos o melhor registro, mesmo que tivesse alguns erros ou imperfeições, porque eu queria que fosse real.


Por que a opção de gravar um disco de blues?
Esse é o CD que eu quero fazer há oito anos. Citando o lendário Muddy Water (músico norte-americano ao qual é atribuída a ideia da invenção da guitarra elétrica), "se o blues desse à luz uma criança, essa criança seria o rock?n?roll". Ouço blues desde a infância. Todas as minhas bandas de rock favoritas dos anos 60 e 70 foram fortemente influenciadas pelo blues. Então, foi por meio de bandas como Rolling Stones e artistas como Janis Joplin que eu ouvi falar sobre Robert Johnson, Muddy Waters, BB King e Big Mama Thornton.

Como foi a seleção do repertório?
Todas essas belíssimas canções do blues de Memphis foram cuidadosamente escolhidas porque eu sempre as admirei. No momento em que Alan Toussaint tocou as primeiras notas no piano em "Shattered Dreams", eu soube na hora que estávamos criando algo realmente especial. Para mim, a melhor parte do blues são as canções que contam histórias, que também são inspiradoras, canções sobre perseverança e força. Eu estava procurando por isso enquanto selecionava o repertório ou por faixas como  "I'm Just Your Fool", que são simplesmente divertidas e, ao mesmo tempo, grandes obras musicais.

E a escolha dos artistas que participaram do disco, entre eles BB King. Como eles foram chamados?
O lendário BB King tem sido um dos meus artistas favoritos desde que eu consigo me lembrar. Na verdade, eu o conheci quando estava na faculdade e era DJ na estação de rádio de lá. Trinta anos depois, ele está tocando no meu disco. É realmente fantástico. (O cantor) Jonny Lang é uma lenda no que faz, e eu tenho todos os seus discos. Eu e Allen Toussaint fizemos um apresentação juntos num show beneficente para as vítimas do furacão Katrina e foi mágico. Queríamos ter a oportunidade de gravar algo juntos. Ann Peebles é um dos meus cantores favoritos de R&B de todos os tempos e Charlie Musselwhite - você sabe, qual é? - é, provavelmente, um dos melhores gaitistas que já existiram. O que eu aprendi com eles? Que eu amo blues e que isso está no meu sangue.

Qual foi a sua inspiração quando você começou a gravar o álbum? O que você ouviu para se preparar para o projeto?
As mulheres do blues são realmente as minhas favoritas. Especialmente Ma Rainey (1882-1939, uma das primeiras cantoras a gravar suas músicas, chamada de "A Mãe do Blues"). Eu usei correntes na capa do CD por causa dela. É minha homenagem. Ela costumava usar correntes e um grill (joia removível que cobre alguns dentes, geralmente de ouro ou platina, atualmente muito ligada à cultura hip hop). Ela era "gangsta" antes do "gangsta". Minhas outras cantoras favoritas são Big Maybelle, Memphis Minnie and Lil Green.

Você é uma das cantoras mais importantes da década de 1980. Quais são as principais lembranças que você tem dessa época?
Foi um grande período para a música, a moda e a arte em geral. Pessoas corajosas e muito peculiares surgiram nos anos 80. Como artista, você continua seguindo em frente e criando. Eu lancei álbuns e fiz turnês sistematicamente desde então. Mesmo antes de "Memphis Blues", sempre incorporei o velho e o novo.

O que você pensa a respeito do show business hoje? Você acha menos glamouroso?
Não, sempre tem glamour.

Que tipo de música você gosta de escutar em casa?
Eu ouço vários estilos, mas o blues é o que eu mais tenho ouvido ultimamente.

Quais são seus próximos planos?
Atualmente estou percorrendo os Estados Unidos com a turnê de "Memphis Blues" e também vamos rodar por outros países. Planejo estar na estrada durante o próximo verão. Também estou trabalhando na trilha de "Kinky Boots", uma adaptação para a Broadway do filme britânico de mesmo nome (dirigido por Julian Jarrold em 2005). (O premiado dramaturgo) Jerry Mitchell será o diretor da peça. Além disso, estou escrevendo uma autobiografia que vai ser lançada em 2011 e assinei um contrato com a Mark Burnett Productions (responsável por consolidar o reality show na TV americana, com programas como "O Aprendiz" e "Survivor") para lançar meu próprio reality, previsto para estrear também em 2011. E quero continuar meu trabalho na Fundação True Colors e em nossa campanha em que heterossexuais se manifestam em favor da comunidade gay na lusta pelos direitos civis.

Quando você volta ao Brasil?
Estou focando na minha turnê pelos Estados Unidos agora. Espero que no fim deste ano ou no início do ano que vem. Mal posso esperar para voltar e ver todos vocês!

Cyndi Lauper
CD Memphis Blues
LAB 344. 11 faixas
Quanto: R$ 27,90, em média


Fonte: Gazeta Online/Caderno 2/Tatiana Wuo/Gisele Arantes: http://bit.ly/aQslZq

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